Novo meio feito por e para pessoas trans no Brasil quer cobrir política e cotidiano das vivências trans
Apesar de todas nossas tretas e baphos nas comunidades, acho que nos fortalecemos nestes anos, sob condições bastante complicadas. O Brasil é o país em que se registram mais assassinatos motivados por ódio a pessoas travestis e trans – quatro em cada dez no mundo ocorrem aqui –, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). E os relatos policiais e jornalísticos contribuem para alimentar a situação de violência, revela a pesquisadora Dayane Barretos, doutora em Comunicação Social pela UFMG, em tese reconhecida na edição 2022 do Prêmio ComPós. A abordagem com pessoas trans deve ser feita de forma mais cautelosa, com o intuito de evitar a reprodução de preconceitos e estereótipos.
Equipas de pesquisa académica que estudam comunidades trans são por vezes trans elas mesmas. Na realidade, esses dados precisam ser apresentados porque denunciam a falta de políticas públicas na área da educação, saúde, inserção no mercado de trabalho e renda e denunciam também uma política que consente com a morte de pessoas trans e travestis. É possível observar que, no Brasil, as pessoas trans e as travestis vivem à margem da sociedade e são vítimas de estigmas que as ligam à marginalidade, à prostituição, ao consumo de drogas e à promiscuidade sexual. A prostituição só aumenta a vulnerabilidade das pessoas trans a atos de violência, disse Villasana. A expectativa de vida das mulheres trans está entre 35 e 41 anos – aproximadamente metade da expectativa de vida da população geral do mundo, de acordo com a Warner Media.
Eu sou menos lida, menos referenciada e menos reconhecida como produtora de conhecimento por ser mulher trans e negra. Portanto, o maior desafio é o reconhecimento da minha capacidade como profissional, sem o apagamento genérico decorrente de estereótipos que as pessoas tem da minha identidade. Também ser reconhecida como uma professora de psicologia que podem dar diversas disciplinas, como eu dou, e que não esteja necessariamente ligada com diversidade ou direitos humanos, como as pessoas imaginam”.
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Quantos jornalistas ainda usam o termo homofobia para falar da opressão de todas as pessoas LGBTs? Não que haja uma régua de opressão, nunca foi sobre isso, mas sobre reconhecer que existem muitas opressões diferentes dentro da população LGBT+, que não é homogênea. De todas formas, também penso na necessidade de enfatizar que minha vida profissional não se limita a falar e pensar sobre questões trans.
A Transmídia vem desse lugar, surge a partir de uma falta, de uma necessidade de conseguir construir novas narrativas feitas por pessoas trans e para pessoas trans que trabalham na área da comunicação, para que nós consigamos, de fato, NLUCON nos sentir representados e fazer um trabalho de excelência”, diz Caê. Enfim, sem desconsiderar os limites da liberdade morfológica, para efeito do cumprimento do nosso objetivo neste artigo, pensamos que resta clara a sua importância em um conjunto mais amplo de liberdades. Diante dos aspectos expostos até aqui, procuraremos recorrer a matrizes teóricas que oferecem caminhos disruptivos que nos permitem não somente desmantelar o sistema sexo-gênero e seus tentáculos cis-heteronormativos, mas também construir um terreno sólido para a reivindicação de direitos para pessoas trans e travestis. Eis, aqui, um marco não somente para a separação entre o desejo direcionado a outro corpo e o desejo de ser quem se é, mas, principalmente, entre o homossexual e a travesti7.
„Esses corpos, estigmatizados historicamente, escancaram a artificialidade da norma de gênero, mostrando que ela é questionável”, afirma Dayane Barretos. „É preciso denunciar essa realidade para que se entenda o quanto ela é absurda, para que essas mortes passem a ser lamentadas e que se perceba o quanto essas vidas também são válidas.” Após me chamar de anormal, eu perguntei por que e ela disse, “você não é comum na escola”.
Durante a transmissão, Vatiero abordará como fake news intensificam ataques físicos e digitais, dificultam o avanço de políticas públicas, prejudicam o acesso ao mercado de trabalho e afetam a saúde mental da comunidade. A liberdade morfológica como direito pode ser vista como uma consequência do direito ao corpo combinado com o direito à liberdade (onde o direito ao corpo decorre do direito à vida). Para florescermos como seres humanos, precisamos que os outros respeitem os nossos corpos, mas também respeitem a nossa liberdade de ação. Algumas dessas ações, numa sociedade biotecnologicamente avançada, implicarão a modificação dos nossos corpos, e, portanto, os direitos mais fundamentais implicam a liberdade morfológica.
Mas é importante dizer que esta formalidade de manuais diagnósticos não impede que, atualmente, psicoterapeutas continuem querendo reverter sexualidades não hetero e querendo fazer com que pessoas trans desistam de ser trans. Ou seja, não podemos desassociar estes processos de contextos conservadores mais amplos, em escala mundial e micro. Veja os investimentos da dita psicologia cristã para retomar a legitimidade da ‘cura gay’, por exemplo. A questão que eu sempre falo refente ao assunto é que a minha produção intelectual como pesquisadora é muito desvalorizada socialmente pelo fato de ser uma mulher trans.
Estudos transgênero
Um nome social no Brasil é aquele adotado por indivíduos que sentem que o nome representa melhor sua identidade. Embora não tenha enfrentado nenhuma discriminação de seus empregadores até agora, ele disse que ainda vive em constante medo em sua vida cotidiana. E a repercussão com muitos ataques reforça a própria problemática da matéria, que é a transfobia”, disse ela.
- De acordo com um dossiê da Antra, em 2022, ao menos 151 pessoas trans foram assassinadas no Brasil, obtendo assim, pelo 14º ano seguido, o título de país que mais mata pessoas trans no mundo por causa de seu gênero ou orientação sexual.
- Danielle Villasana, que é natural dos Estados Unidos e vive em Istambul, fez vários trabalhos na América Latina, onde se concentrou durante muito tempo em comunidades de mulheres trans na região.
- São outros graus e processos, mas eu acho bem interessante relacionar a cisnormatividade afetando pessoas que não são trans.
- Na primeira seção, abordaremos o problema conceitual em torno do tema e destacamos aspectos históricos da consolidação do movimento de pessoas trans e travestis relativos, sobretudo, ao contexto nacional.
Transvivências: é uma luta única?
As questões entretanto começam a se complexificar quando as perguntas que se cruzam, nos são atravessadas. Uma vez durante um encontro no pátio ao final da aula, uma aluna negra discutia o modo racista como era tratada, enquanto eu tentava ajudá-la, um outro aluno (trans) era tratado no feminino por uma das diretoras e dois meninos (maiores, de uns 16) tentavam “passar a mão” em uma aluna de 13 anos que se “divertia” entre risadas e constrangimentos. Poderia passar sem incômodos por outros olhos, mas olhos e ouvidos trans são atentos, e sabem observar (talvez em função das táticas de sobrevivência em anos de luta). Acredito que essa nova geração será de adultos mais tolerantes e dispostos a conviverem em sociedade com a diversidade, pois eles sabem que nós não somos aquilo que eles aprenderam em casa muitas vezes.
Na história afetiva, podemos pensar nas associações das mulheres trans e travestis aos estigmas do trabalho sexual, o que é diferente da dinâmica transfóbica sobre homens trans (do invisível ao exótico). Consequentemente, torna-se premente estabelecer medidas que legitimem a reivindicação pelas transcorporalidades13 das pessoas que almejam o uso de hormônios e a realização de alterações e/ou modificações corporais cirúrgicas, minimizando os efeitos nocivos da cisnormatividade contra os corpos e as vidas trans. A título de observação, não estamos afirmando que toda e qualquer pessoa trans e travesti deseja realizar procedimentos como esses, mas apontando para a necessidade de uma plataforma que pense nas transcorporalidades como eixo de políticas públicas voltadas para as demandas do movimento social composto por pessoas trans e travestis.